Uma pesquisadora brasileira ganhou o prêmio de melhor tese de biologia do Reino Unido
Em 1858, o naturalista britânico
Charles Darwin apresentou a teoria da evolução – base da “seleção natural” – à
mesma sociedade de cientistas. A premiação é equivalente à concedida
anualmente, no Brasil, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior).
Após quatro anos de estudos, a
pesquisadora formada na UnB (Universidade de Brasília) mostrou como evoluem as
mirtáceas – uma família de plantas encontrada, principalmente, nos biomas
brasileiros. Apesar do nome pouco comum, as espécies deste grupo são velhas
conhecidas dos brasilienses: cagaitas, goiabeiras e eucaliptos, por exemplo.
“Mirtáceas são a base de vários
ecossistemas. As flores produzem pólen para as abelhas, e os frutos carnosos
sustentam a fauna da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia.”
Biologia evolutiva
Como inovação na ciência, a tese
de doutorado comprovou que, diferente do que se pensava até então, essa família
de plantas “mudou, ao longo do tempo, menos do que o esperado”.
“Em todos os escossistemas da
América do Sul, essas plantas são diversas e muito importantes na ecologia
desses biomas. Vários animais interagem com elas, por isso esperava-se que os
formatos da flores mudassem, mas isso não acontece tanto”, explica.
Na prática, Thaís conta que o
estudo das plantas ajudou a desenvolver conceitos da biologia evolutiva – uma
subdivisão da área que estuda a origem e a descendência das espécies, assim
como suas mudanças ao longo do tempo.
Antes das Américas
Uma outra conclusão da pesquisa
tem a ver com um fenômeno ocorrido nos primeiros 500 milhões de anos da origem
da Terra: a formação do supercontinente do sul Gondwana. De acordo com a
hipótese levantada, as mirtáceas chegaram às Américas quando os continentes
ainda estavam unidos.
“Pegamos espécies de vários
países da América do Sul, América Central e ilhas do Pacífico. Coletamos as
amostras das plantas, sequenciamos e, comparando o material genético delas,
pudemos reconstruir o parentesco e história evolutiva”, detalha a pesquisadora.
Dificuldades
Para Thaís, o prêmio serve como
incentivo à pesquisa e à ciência no Brasil, considerada por ela “ainda com
pouco investimento”. A bióloga destaca que, apesar de viverem em meio ao
cerrado do Distrito Federal, por exemplo, as espécies desse bioma ainda são pouco
exploradas.
Outro ponto crítico, segundo ela,
é a dificuldade em conseguir investimentos financeiros. O doutorado concluído
em Londres por Thaís foi financiado pelo programa do governo federal Ciências
Sem Fronteiras, em 2013.
Desde julho de 2016, em meio à
crise econômica, as instituições de ensino federais e estaduais reduziram em
até 99% o número de alunos enviados ao exterior até o ano passado.
“A gente vê que a maioria dos
[prêmios] Nobel é de lá [Inglaterra], que os cientistas de destaque são de lá.
Não é porque nós não temos capacidade, mas porque lá investem mais em ciência”,
avalia.
“É uma pena. Nós temos a
biodiversidade e um potencial grande, mas não temos incentivo.”
Jornal O Sul
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