O censo da floresta contra a extinção
Nos últimos nove anos, pelo menos
840 filhotes de periquitos cara-suja (Pyrrhura griseipectus) nasceram e voaram
dos ninhos artificiais montados pela ONG Aquasis nas matas de Baturité, Quixadá
e Ibaretama. Segundo o biólogo Fabio Nunes, um alento para o trabalho de
repovoamento da espécie que, em 2017, saiu da categoria de
"criticamente" ameaçada de extinção para o status de "em
perigo" de desaparecer das florestas do Ceará.
Cento e vinte pessoas, entre
biólogos e observadores de pássaros, foram a campo no último final de semana
para mapear o tamanho da população da ave numa área de 30 km quadrados entre os
municípios de Guaramiranga e Pacoti. O levantamento faz parte do II Censo Anual
do Periquito Cara-Suja, realizado com apoio da Fundação Boticário, da
Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
A reversão do declínio
populacional desse tipo de periquito vem sendo estudada desde 2007 quando
pesquisadores da Aquasis passaram a esquadrinhar as causas do desaparecimento
da ave.
O periquito cara-suja, explica
Fábio Nunes, é um animal exclusivamente nordestino que já habitou muitos
estados da região e atualmente ocorre apenas em três pontos do Ceará. A
destruição das florestas, notadamente dos ecossistemas serranos, e a captura
das aves para o tráfico contribuíram para a redução drástica dos bandos.
Em 2017, o primeiro censo estimou
a existência de 384 periquitos, sendo 314 indivíduos na serra de Baturité, 62
na Serra do Mel (Quixadá) e 8 na Serra Azul (Ibaretama). "O número de
cara-sujas é maior do que 314, mas foi o que contamos. É o valor mínimo.
Provavelmente, o número esteja entre 600 e 800 indivíduos. Mas isso é uma
apenas estimativa", observa Fábio Nunes.
De acordo com o biólogo, o
relevante para a pesquisa é manter uma série de contagens para produzir
parâmetros comparativos e assim poder entender a tendência populacional da
espécie.
Fábio Nunes explica que o censo é
um momento para analisar o impacto do projeto de intervenção conservacionista,
medindo o crescimento ou decréscimo populacional. "Quando iniciamos é
possível que existissem menos de 100 indivíduos na serra de Baturité. A espécie
era muito rara e muito capturada", lembra.
O pesquisador descreve que o
desmatamento, as queimadas e a ação de traficantes reduziram os locais para
reprodução do periquito. Com isso, as aves passaram a utilizar lugares
inadequados como ninhos vulneráveis e apertados. Os caras-sujas costumam fazer
ninhos em ocos de árvores. Porém, como não são capazes de escavar a madeira,
aproveitam buracos deixados por pica-paus.
Com o projeto desenvolvido pela
Aquasis, a partir de 2009, foram instaladas caixas-ninhos para servir de
berçários. Hoje já são mais de 50 instaladas na serra de Baturité. A reprodução
ocorre uma vez ao ano, de fevereiro a junho, quando as fêmeas botam em média
seis ovos.
"No início, passávamos dias
sem ver os cara-sujas em Baturité. Hoje, a realidade é bem diferente,
conseguimos reverter uma situação de declínio populacional para um aumento
expressivo", comemora o pesquisador. O resultado do censo sairá esta
semana.
PESQUISA
Saber do tamanho populacional e
suas tendências são importantes critérios de avaliação do status de conservação
de uma espécie, de acordo com a União Internacional para Conservação da
Natureza (IUCN).
DADOS
O resultado do censo pode
demonstrar como a espécie responde às intervenções humanas e a algumas
variáveis, como capacidade do ecossistema, condições genéticas e impactos
ambientais.
ESPÉCIE
O periquito cara-suja é uma
espécie social que vive em bandos familiares de aproximada- mente 4 a 15
indivíduos. Eles medem de 22 a 28 cm e pesam em média 58 gramas.
Visitação
O periquito cara-suja também é
conhecido por tiriba-de-peito-cinza. Em Guaramiranga há um Centro de pesquisa
sobre a espécie.
O Povo