Quanto vale a vida? Quanto, Vale?
Outra barragem se rompeu. Pouco
mais de três anos após a tragédia de Mariana, que deixou 19 mortos, outro
município de Minas Gerais, Brumadinho, é agora manchete dos principais jornais
do país por razões muito semelhantes.
De acordo com nota divulgada pela
Vale do Rio Doce, empresa responsável pela barragem, as primeiras informações
indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da
comunidade da Vila Ferteco. Não há ainda notícias em relação à quantidade de
feridos, desaparecidos ou em relação a mortes, mas vídeos que circulam na
internet já mostram o heroico corpo de Bombeiros realizando resgastes. Também
não é possível calcular, ainda, a extensão dos danos ambientais provocados por
mais essa “fatalidade”.
Diante de situações como essa nos
vemos quase que imediatamente inclinados a tentar identificar as causas do
problema e as possíveis soluções; somos inundados, então, pelos noticiários,
com informações técnicas sobre as condições da obra e muitas vezes somos
levados a acreditar que a “fatalidade” se deveu a erros procedimentais, “falha
humana”, ou questões contingenciais e imprevisíveis. No entanto não necessário
muito esforço para compreender que o problema de fundo (e também a solução para
o problema) é, na realidade, de natureza política e econômica.
A Vale é maior mineradora mundial
de minério de ferro, produtora de ouro, exploradora de bauxita (matéria-prima
do alumínio) bem como de titânio, no qual o Brasil é o maior detentor mundial
do minério. Em matéria publicada pela Forbes em 2016 a empresa era apontada
como a sexta maior do país, classificação que levava em consideração o lucro
líquido, as vendas, os ativos e o valor de mercado. Não faltam para a Vale
condições financeiras para investir em estruturas mais seguras, nem mão de obra
tecnicamente qualificada para o trabalho. Não faltam condições para calcular e
antever a alta probabilidade de incidentes como esses acontecerem. Falta, sim,
interesse, e isso porque é mais lucrativo esperar tragédias acontecerem e
confiar na impunidade.
Mariana é, nesse sentido um caso
emblemático. Em julho de 2018, três após o rompimento da barragem, foi firmado
um acordo entre o MPF e os representantes da Vale que, na ocasião, foi
noticiado nos seguintes termos pela revista Veja: “O novo pacto extingue uma
ação civil pública de 20 bilhões de reais e suspende a tramitação de outra, de
155 bilhões de reais, movida contra a empresa e as controladoras, os gigantes
Vale e o anglo-australiano BHP Billiton”. As famílias atingidas em 2015 até
hoje sofrem em razão do ocorrido, choram pelos seus mortos e não receberam na
integralidade a devida indenização pelos danos sofridos. Os acionistas da Vale,
no entanto, seguem recebendo gordos dividendos.
Até quando colocar vidas humanas
em risco para minimizar os custos de produção vai ser, para empresas como a
Vale, um bom negócio? Certamente, enquanto a impunidade for uma certeza com a
qual puderem contar os poderosos.
Revista Pazes
Arquivado em: Nacional