Trump confirma morte do líder do grupo EI em operação dos EUA na Síria
O presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, afirmou neste domingo (27) que o líder do grupo extremista Estado
Islâmico (EI), Abu Bakr al Bagdadi, morreu “como um cachorro” em uma operação
de agentes especiais americanos durante a noite no noroeste da Síria.
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(ARQUIVO) Captura de vídeo sem
data publicado pelo Al-Furqan em 29 de abril de 2019, mostra o líder do EI, Abu
Bakr al Bagdadi - AL-FURQAN MEDIA/AFP/Arquivos
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Trump fez um pronunciamento
televisionado ao país da Casa Branca, no qual informou que os agentes
americanos mataram “um grande número” de militantes do EI durante a operação,
que culminou no encurralamento de Bagdadi em um túnel, onde ele acionou um
colete suicida.
“Ele acionou seu colete, se
matando”, disse Trump. “Ele morreu após correr para um túnel sem saída,
soluçando, chorando e gritando por todo o caminho”, declarou, acrescentando que
três de seus filhos também morreram com a explosão.
O presidente americano disse que
a operação, que demandou mais de uma hora de voo de helicóptero em várias
direções vindo de uma base não revelada, foi possível graças à ajuda da Rússia,
da Síria, da Turquia e do Iraque.
As forças especiais “executaram
uma incursão noturna perigosa e ousada no noroeste da Síria e alcançaram sua
missão em grande estilo”.
No seu auge, o EI controlou
vastos territórios no Iraque e na Síria, onde proclamou um califado marcado
pela imposição brutal de uma versão puritana do Islã.
Além da opressão da população sob
seu comando, o EI planejou ou inspirou ataques terroristas na Europa, usando
técnicas de propaganda nas redes sociais para atrair um número amplo de
voluntários estrangeiros.
Foram vários anos de guerra, nos
quais o EI ficou famoso pelas execuções em massa e assassinatos de reféns,
antes de o último território do califado na Síria ser retomado, em março.
A morte de Bagdadi é uma grande
conquista para Trump, cuja decisão abrupta de retirar tropas da Síria despertou
temor que o remanescentes do EI pudessem se reagrupar.
O mandatário recebeu uma salva de
críticas, inclusive de seu próprio Partido Republicano.
– População em pânico –
De acordo com o Observatório
Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma ampla rede de informantes no
terreno, comandos americanos foram deixados de helicópteros na província de
Idlib (noroeste sírio), em uma área onde estavam “grupos próximos ao EI”.
A operação matou nove pessoas,
incluindo um líder do EI chamado Abu Yamaan, além de uma criança e duas
mulheres, segundo a ONG.
Um morador contactado pela AFP na
zona de Barisha disse ter ouvido helicópteros e ataques de aviões poucos
minutos depois da meia-noite.
“Os aviões voavam a uma altura
muito baixa, provocando grande pânico entre as pessoas”, relatou à AFP Ahmed al
Hassaui, deslocado instalado em um dos acampamentos informais perto do Barisha.
Segundo ele, “a operação durou pelo menos até as 3h30” de domingo.
“Tem uma casa destruída, barracas
de campanha e um veículo civil danificado, com dois mortos dentro”, contou à
AFP Abdelhamid, outro morador da Barisha.
Na manhã deste domingo,
combatentes do grupo Hayat Tahrir Al Sham (HTS), outrora o braço sírio da Al
Qaeda, tomaram posições em torno de uma casa em ruínas, situada no meio de um
olival em Barisha, perto da fronteira turca, onde a operação teria ocorrido
nesta madrugada.
Alguns jornalistas, entre eles um
correspondente da AFP, puderem se aproximar brevemente das ruínas desta casa,
totalmente destruída.
– Trabalho conjunto de
inteligência –
A Turquia, que tem praticado uma
ofensiva contra as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, no
nordeste da Síria nas últimas semanas, tinha “conhecimento antecipado” sobre o
ataque, disse uma autoridade turca.
“Até onde eu sei, Abu Bakr al Bagdadi
chegou a esse local 48 horas antes do ataque”, disse o oficial à AFP.
O comandante em chefe das FDS,
que luta contra o EI na Síria, afirmou que a operação ocorreu após “trabalho
conjunto de inteligência” com as forças americanas.
Trump também disse que o Iraque
tinha sido “muito bom” durante o ataque.
Ele disse que nenhum soldado dos
EUA foi ferido, apesar de “disparar muitos tiros” e “muitas explosões”. A única
vítima americana foi um cão militar no túnel com o líder do Estado Islâmico
preso.
Perseguido pela coalizão liderada
pelos Estados Unidos contra o EI há muitos anos, Bagdadi já foi erroneamente
relatado morto várias vezes.
– Aparição pública em 2014 –
Abu Bakr al Bagdadi não deu
sinais de vida desde uma gravação de áudio divulgada em novembro de 2016, após
o início da ofensiva iraquiana para retomar Mossul, na qual pediu para seus
homens lutarem até se tornarem mártires.
Foi em Mossul a única aparição
pública do líder do EI da qual se tem conhecimento, em julho de 2014, na
mesquita Al Nuri.
Vestido de preto e com turbante,
o extremista pediu para todos os muçulmanos lhe jurarem lealdade, após ser
nomeado chefe do califado proclamado pelo EI nos extensos territórios que tinha
conquistado no Iraque e na vizinha Síria.
Bagdadi, cujo verdadeiro nome é
Ibrahim Awad al Badri, teria nascido em 1971 em uma família pobre da região de
Bagdá. Apaixonado por futebol, fracassou em sua tentativa de ser advogado e
militar, e começou a estudar teologia.
Durante a invasão americana do
Iraque em 2003, criou um pequeno grupo jihadista sem muito impacto, antes de
ser detido na gigantesca prisão de Bucca.
Liberado por falta de provas
contra ele, se uniu a um grupo de guerrilha sunita vinculado à Al Qaeda, e
liderou-o anos depois. Aproveitando o caos da guerra civil, seus combatentes se
instalaram na Síria em 2013 e, de lá, lançaram uma ofensiva no Iraque.
O grupo, que mudou seu nome para
Estado Islâmico, ocupou o lugar da Al Qaeda. Seus sucessos militares iniciais e
a propaganda eficaz levaram milhares de pessoas a se alistarem em suas filas. O
EI reivindicou diversos atentados violentos no mundo todo.
AFP
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