Na Idade Média, seres humanos viviam muito mais do que se Imagina
A crença de que anglo-saxões
viviam pouco é fruto de problemas na pesquisa. Entenda!
É um clichê entre as pessoas
razoavelmente informadas em História: na Idade Média, alguém com 30 anos era
considerado velho, no fim da vida. Aos 40, um ancião.
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The Madwoman, por Theodore
Gericault - Getty Images
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A ideia foi reforçada por
arqueólogos, paleontólogos e historiadores, e alimentada pelo cinema e
literatura. Mas essa noção popular acaba de ser posta em dúvida por um estudo
de 2018, realizado pela Australian National University.
Ao analisar tumbas de três
cemitérios anglo-saxônicos do Reino Unido, os arqueólogos Christine Cave e Marc
Oxenham concluíram que, entre 475 e 625 d.C., homens e mulheres comumente
ultrapassavam os 75 anos de idade, e as mulheres já apresentavam maior
expectativa de vida. "As pessoas achavam que você chegava aos 40 e era o
máximo que se podia", afirma Cave. "Isso não é verdade."
“Com certeza, o surgimento da
medicina moderna e de uma gama de desenvolvimentos sociais levaram a uma maior
proporção da humanidade vivendo até a idade avançada”, disse Oxenham para o
jornal Seeker. “Contudo, está claro que milhares de anos atrás os humanos
também viviam bem aos 80 e 90. Só que não era uma proporção alta deles que
conseguia isso.”
Confusão Histórica
A ideia de vida curta, sórdida e
brutal veio do método de datação dos corpos mais tradicional. "Quando você
está determinando a idade de uma criança, utiliza de marcações de
desenvolvimento, como o nascimento dos dentes ou a fusão dos ossos que acontece
em certa idade", diz a arqueóloga Christine Cave.
"Mas quando alguém termina
de crescer é cada vez mais difícil determinar sua idade por restos
esqueléticos, razão pela qual a maioria dos estudos tem como categoria máxima
de idade 40 ou 45 em diante. Assim, efetivamente, eles não distinguem entre uma
pessoa saudável de 40 anos e um ancião de 95", complementa Cave
“Aqueles com idade entre 60 e 90
são uma população arqueológica invisível”, resume Marc Oxenham.
Para driblar essa dificuldade,
Oxenham e Cave ordenaram, do mais jovem ao mais velho, os restos mortais
retirados dos cemitérios, segundo o desgaste da arcada dentária de cada um.
Depois, calibraram suas informações por dados conhecidos de populações com um
modo de vida semelhante aos anglo-saxões da época - porque diferentes culturas
têm diferentes dietas e gastam os dentes de maneira particular.
A análise determinou que sete
mulheres e dois homens tinham mais de 75 anos quando morreram. Dez mulheres e
seis homens morreram entre 65 e 74 anos. A maioria morreu entre 30 e 44 anos,
mas, entre as mais de cem tumbas estudadas, existe um número significativo de
idosos.
A maior expectativa de vida das
mulheres na época, padrão observado em escala mundial hoje, é importante para
pesquisas atuais, que sugerem que fatores genéticos e biológicos são
primordiais para a longevidade humana.
Aventuras na História
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