Delegada é demitida da Polícia Civil por acumular cargos públicos
Acusada passou um ano e cinco
meses como técnico ministerial do Ministério Público de Pernambuco e delegada
no Ceará, segundo as investigações. A defesa alega que a servidora pediu
suspensão de um cargo e promete recorrer
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A delegada era investigada pela
Controladoria Geral de Disciplina desde 2013. Foto: Cid Barbosa
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A delegada da Polícia Civil do
Ceará (PCCE) Márcia Janine Espíndola foi punida com demissão, por acúmulo de
cargos públicos, após Processo Administrativo Disciplinar (PAD) da Controladora
Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário
(CGD). A decisão foi proferida pelo governador Camilo Santana e publicada no
Diário Oficial do Estado (DOE) da última sexta-feira (29).
Conforme o documento, Márcia
Janine exerceu as funções de técnico ministerial do Ministério Público do
Estado de Pernambuco (MPPE) entre agosto de 2006 e junho de 2013 e de delegada
no Ceará, entre janeiro de 2012 e a data da demissão. No período de um ano e
cinco meses que esteve nos dois cargos, a servidora recebeu mais de R$ 96 mil.
"No termo de reinquirição da
processada (na CGD), esta admitiu que enriquecera ilicitamente com a acumulação
dos cargos no Ministério Público de Pernambuco e na Polícia Civil do Ceará,
confirmando a percepção de duplo ganho, sem a solicitação de ressarcimento dos
vencimentos percebidos em razão do cargo de Técnico Ministerial", afirma a
publicação.
A investigação administrativa no
Ceará ainda encontrou incoerências no discurso da delegada. Segundo a
publicação, a acusada mencionou que sempre almejou exercer o cargo de delegada,
no depoimento à CGD. Porém, ela já havia afirmado que desejava seguir na
carreira ministerial, ao ser interrogada pela Procuradoria Geral de Justiça de
Pernambuco (PGJ-PE), também pelo acúmulo de funções nos dois estados.
"A atuação de um servidor
público integrante da Polícia Civil do Estado do Ceará deve ser sempre pautada
na legalidade, não devendo ele se afastar dos deveres de sua Instituição. Por
conseguinte, foi isso que se constatou em relação à conduta da DPC (delegada)
Márcia, a qual não observou a missão que lhe fora confiada, prejudicando a
sociedade, além da imagem da instituição/Polícia Civil e sobretudo lesando os
erários estaduais".
Márcia Janine continuou a
trabalhar na Polícia Civil, como delegada plantonista em uma unidade de
Fortaleza, mesmo depois de ser condenada pela Justiça Estadual de Pernambuco
por peculato, pelo acúmulo de funções. Em junho deste ano, a Vara dos Crimes
Contra a Administração Pública e a Ordem Tributária de Pernambuco sentenciou a
servidora a 7 anos de prisão, perda dos cargos e pagamento de mais de R$ 96
mil.
Alegações
Ainda de acordo com a publicação
no DOE, a delegada alegou que, ao ser convocada pela Polícia Civil, enviou um
pedido de suspensão de vínculo ao Ministério Público de Pernambuco pelos
Correios e que soube somente depois que a solicitação não havia sido
processada. Sobre os ganhos dobrados, a acusada justificou que "é uma
pessoa desorganizada financeiramente".
"Ainda que se considerasse
indevido o acúmulo dos cargos, isso não poderia configurar ato ilícito, pois a
delegada jamais teve a intenção de obter qualquer vantagem com a situação. A
delegada Marcia Janine optou, desde sempre, por assumir seu cargo no Ceará,
tendo exercido suas funções normalmente desde o momento de sua posse, sem
qualquer interrupção ilegal das suas atividades", defenderam, em nota, os
assessores jurídicos da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará
(Adepol), advogados Leandro Vasques e Seledon Dantas.
Os defensores garantiram que irão
tomar as medidas cabíveis, quais sejam o recurso administrativo direcionado ao
próprio governador e a ação judicial para anular a sanção. "Acreditamos
que, na análise do recurso, bem como do enfrentamento judicial da questão, a
conclusão será de que Dra. Marcia Janine jamais cometeu qualquer ilícito
administrativo ou criminal. Pelo contrário, sempre exerceu com zelo e dedicação
o cargo de delegada no Ceará, contribuindo com a segurança pública por todas as
unidades pelas quais passou", completa.
Corporação
Questionada, a Polícia Civil do
Ceará informou, por meio da assessoria de comunicação, que a ex-servidora
Márcia Janine Espíndola foi retirada da folha de pagamento da Instituição, após
a publicação de sua demissão no Diário Oficial do Estado (DOE).
A corporação disse ainda que a
ex-servidora foi notificada para entregar a carteira funcional e demais
acessórios da Polícia Civil. Por fim, esclareceu que Márcia Janine estava
afastada por licença para tratamento de saúde desde o mês de agosto desse ano.
Diário do Nordeste
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